Resumo
Nos últimos anos, o campo das humanidades tem renovado seu interesse pela dimensão afetiva dos fenômenos sociais, no que foi denominado virada afetiva. Entre esses fenômenos, a produção e recepção de músicas populares constituem-se, sem dúvida, como um campo de interesse particular. As músicas impactam no afetivo e, ao mesmo tempo, emoções e sentimentos são um tópico recorrente em grande parte das canções. Dessa maneira, as perspectivas teóricas que reposicionam a importância do afetivo são especialmente interessantes para os estudos sobre as músicas populares. No entanto, notamos que algumas dessas propostas, no afã de considerar o afetivo, acabam reproduzindo uma lógica dualista que separa aquilo que concebem como corporal, afetivo e não representacional daquilo que consideram como mental, cognitivo e discursivo. Propomos, em contrapartida, um enfoque que entende a dimensão afetiva como parte de qualquer processo cognitivo e sustentamos que uma perspectiva sociodiscursiva fornece valiosas ferramentas para a compreensão dessa dimensão nas músicas populares, incluindo a capacidade que elas têm de interpelar determinados públicos e contribuir para a construção de identidades.