Resumo
Existe um regime aural que afeta a audição musical no século XXI? Se sim, como é que este regime está configurado? Que práticas de escuta são apoiadas por que tipo de instituições e ideologias e vice-versa? Este artigo aproxima possíveis interpretações destas questões, recorrendo às práticas de escuta musical contemporânea. Apresenta uma definição de “regime aural” a partir de três problemas contemporâneos em torno da escuta musical, tais como o efeito da ideologia do multiculturalismo no estabelecimento deste regime, o papel de diferentes indústrias (música, entretenimento e turismo) e instituições (universidades, centros culturais e arquivos) no estabelecimento de pedagogias de escuta musical, bem como na construção de subjetividades musicalmente mediadas. Faço uma revisão de debates em curso como a geração de julgamentos estéticos sobre a música não-ocidental e a sua relação com uma possível “condição pós-moderna” (García 2012), a onipresença de diversas músicas –e não tão diversas– e o problema resultante da audição musical atenta (Kassabian 2013), o papel das tecnologias de escuta musical (Erickson e Johanson 2017), e o debate sobre a agência do eu perante o dilema do que escutar e não escutar (Filipovic 2012, Lipari 2014).