Resumo
O campo semântico dos instrumentos musicais, diferentemente da nomenclatura etnobotânica e etnozoológica, representa uma área ainda pouco explorada pelos estudos etnolinguísticos. O presente trabalho baseia-se na análise de três lexemas primários; mbaraka, angu’a e mimby, que originalmente no Guarani Mbya designavam instrumentos musicais de origem indígena e, posteriormente, no Guarani Antigo e Guarani Moderno, foram ressemantizados ou incluídos em palavras compostas para designar instrumentos introduzidos pela população de origem europeia. Cada fonte consultada, portanto, representa um grau diferente de contato com a cultura circundante, fator que se reflete nas relações de hiperonímia e hiponímia entre os lexemas primários e suas mais recentes incorporações ou desenvolvimentos. A análise linguística também revela que as estratégias de formação de palavras nesse campo resultam em nomes morfologicamente complexos que encontram a sua motivação em relações de base analógica ou metafórica com outros elementos presentes no mundo, assim como instâncias de simbolismo sonoro, fenômenos geralmente associados à nomenclatura biológica.